A emoção de Nayara

O curso de trancista da Universidade Zumbi dos Palmares proporciona muito mais que excepcional conhecimento teórico e prático. Ele oferece a percepção de ancestralidade negra e o sentimento de pertencimento a coletivo único de diversidade racial. Foi essa singularidade que tomou conta do coração de uma das estudantes.

Para além de ser um espaço nacionalmente reconhecido por sua excelência no ensino superior e pelo combate ao racismo, a Universidade Zumbi dos Palmares também se caracteriza por ser o local em que as pessoas se reconhecem. Os alunos, em sua maioria pessoas negras, têm acesso a diversos cursos e atividades extracurriculares que não existem em outras instituições do tipo. Nesse caso está se falando do espetacular curso de trancista que a Zumbi oferece. A formação é apreciada principalmente por mulheres, pois a partir do aprendizado, elas vislumbram crescimento profissional. Mas não só. Uma das alunas surpreendeu a todos com sua demonstração de afeto pela universidade. Nayara Tauana de Lima Silva tem 34 anos de idade, é natural de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, mas mora há nove anos na capital paulistana . Ela é assistente social de profissão e atua na área de saúde. Tudo aconteceu da seguinte maneira:

Na quinta-feira 14, por volta das 19 horas, ocorreu o início das aulas teóricas para a segunda turma do curso de trancista. A sala de aula ainda não estava cheia nesse momento, como é, aliás, habitual. E Nayara? Ela já estava em sala, mas ainda desconfortável pensando no dia ruim de trabalho que teve. De um instante para o outro, Nayara se deu conta que Fernanda de Paula, coordenadora de Projetos Especiais e Ação Comunitária da Zumbi e idealizadora do curso de trancista, realizara a abertura do curso. Quando Nayara se percebeu em sala de aula, agora já repleta de mulheres negras, olhando para a coordenadora Fernanda que estava ao lado de José Vicente, reitor da universidade, que sempre faz questão de saldar e dar as boas-vindas aos alunos, e do professor Edson Beat, renomado profissional no campo da beleza negra, ela não suportou a emoção. Sentiu o coração bater forte. “O meu sentimento foi o de pertencimento. Reconheci-me parte daquela turma. Isso é também ancestralidade. Nos outros centros acadêmicos por que passei durante minha formação, não havia essa condição. Eu era, na maioria das vezes, a única pessoa negra”, conta Nayara. Em outras palavras, no curso de trancista da Zumbi, Nayara não estava em meio à minoria em âmbito acadêmico. Pela primeira vez, agora sim, ela estava entre a maioria. “Mais uma coisa. O fato de a Zumbi ter sido criada por José Vicente, um homem negro que acredita que a educação modifica a sociedade é muito importante, tanto para o Brasil quanto para mim”, afirmou Mayara.

Ao ver Nayara em prantos, Fernanda e outras pessoas a acolheram e logo o choro passou e o sorriso apareceu. Essa história Nayara nos contou por e-mail e conversa pessoal. Ela afirma, ainda, que antes de ser assistente social pensou em cursar a disciplina de Direito na Zumbi. “A Zumbi está ajudando-me em uma etapa muito difícil da minha vida.

Por isso, sou extremamente grata pela oportunidade. A minha ancestralidade pulsou de alegria, e eu não consegui conter as lágrimas”, explicou Nayara. A questão da visibilidade negra em espaços acadêmicos prestigiados como é a Zumbi faz a diferença. É um fator que singulariza a instituição e eleva a sua posição perante a sociedade. E, quando casos como o de Nayara acontecem, a emoção entra para história da universidade.

 

Nayara Tauana de Lima Silva em sala: agora é só alegria

 

 

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