Racismo foi a peça-chave para saída de reitora em Harvard

História pode ser relacionada com o contexto brasileiro

Por Fernando Lavieri

O que tem em comum entre o caso de Claudine Gay, 53 anos, acadêmica negra, ex-reitora da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, com a conjuntura brasileira nesse universo administrativo universitário?

O motivo quando analisado a fundo é presumível: racismo. Mas não só. Há também a questão política. Ela assumiu o cargo de reitora em junho de 2023 e renunciou seis meses depois. Claudine Gay foi a segunda mulher e a primeira pessoa negra a cumprir tal função em uma das instituições de ensino mais ricas e prestigiosas do mundo, fundada em 1636.

Tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil o racismo é chaga que parece ser insolúvel, mesmo havendo diferenças entre as duas nações e suas populações pretas, a discriminação é evidente e impede que essas comunidades possam ter, de fato, qualidade de vida. Poucos são os negros que sobressaem dessa circunstância. A pergunta é: como é possível que em uma universidade fundada no século XV, nunca, antes de Gay, tivesse tido uma pessoa negra em sua direção? Somente a vigência do racismo explica esse fato.

No Brasil, há mais de trezentas instituições de ensino superior públicas, mas apenas oito reitores são negros, e a única mulher preta ocupando essa posição é Joana Guimarães. Ela está à frente da Universidade Federal do Sul da Bahia.

Para José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, primeira instituição de ensino superior do Brasil e da América Latina de perfil antirracista e dedicada a comunidade negra, o racismo nesses dois países é estrutural e foi ponto alto do caso de Gay. “Para os conservadores estadunidenses, principalmente do Partido Republicano, ver uma mulher e negra como reitora de Harvard é inadmissível”, diz ele levando em consideração o viés político do caso. “No Brasil, o fato de haver poucas pessoas negras exercendo o cargo de reitoras impede o país de ter reais avanços no sentido de exacerbarmos a nossa democracia. Essa situação não é uma particularidade de âmbito educacional. Está, isso sim, disseminada nos Três Poderes. Por exemplo, nunca tivemos uma mulher negra como ministra do Supremo Tribunal Federal”, concluiu ele.

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